O ponteiro dos segundos, em praticamente todas as vezes, é suficiente para sabermos se estamos diante de um relógio de pulso a quartzo ou mecânico, de uma obra da engenharia relojoeira, ou de uma placa de circuito eletrônico.
Dizem que, na Europa, se o seu relógio não é mecânico, você não será levado a sério nas negociações.
Isso pode ser um exagero, mas a escolha do relógio pode ser um bom indicativo dos valores que uma pessoa tem.
Sendo uma das únicas peças que escolhem para enfeitar o corpo, é natural que os homens sejam mais atentos a essa parte do vestuário.
Escolher um relógio mecânico é, entre outras coisas, optar por cuidar mais, gastar mais, tudo para poder carregar o fruto de séculos de desenvolvimento da engenharia de alta precisão que fomos capazes de criar. É dar atenção aos detalhes, ao valor do trabalho e dedicação, às vezes de meses, na construção de uma só peça. E o ponteiro dos segundos é um bom resumo de tudo isso.
Como já abordamos em outros posts, o relógio a quartzo funciona através da energia elétrica contida na bateria. Por ser muito pequena, e como é necessário gastar um pouco dessa eletricidade cada vez que o motor do ponteiro dos segundos se move, as fábricas preferem garantir que essa energia seja economizada, e, apesar do cristal de quartzo, responsável pela marcação do tempo, vibrar milhares de vezes por segundo, apenas uma vez por segundo a energia é transmitida para mover o ponteiro. Com isso, temos a marcação clássica dos segundos nos relógios de quartzo, o ponteiro que salta (e que nunca “cai” exatamente sobre a marca no dial).
Em relógios mecânicos, é diferente. A energia acumulada na mola do barril é regulada pela frequência da roda de balanço, através da liberação ritmada do escapamento. Assim, toda vez que a roda de balanço se move em um sentido, o ponteiro dos segundos anda um pouquinho.
Os relógios mais conhecidos costumam funcionar com 6, 8 ou 10 vibrações por segundo, o que faz com que o ponteiro dos segundos pareça deslizar suavemente sobre o dial (apesar de, tecnicamente, serem vários minúsculos pulos).
Em inglês, os ponteiros que saltam a cada segundo são chamados de jumping seconds, e os ponteiros que aparentam exercer um movimento contínuo são chamados de sweeping seconds.
Isso, para quem aprecia a arte dos relógios, pode ser toda a diferença.
Mas você sabia que confiar apenas nisso para definir se um relógio é mecânico (corda manual ou automático) pode nem sempre dar certo?
Quando os relógios a quartzo foram lançados, em 1969, pela Seiko, o fato de terem essa “habilidade” diferente era um atrativo. Mas isso já existia em alguns raros relógios mecânicos. A indústria então, na tentativa de diferenciar os relógios eletrônicos dos mecânicos, deixou de fabricar peças com segundos saltadores. Atualmente, buscando mostrar a variedade de complicações possíveis e que são capazes de realizar, algumas empresas estão reintroduzindo os segundos que pulam em alguns relógios. Mas essas unidades são muito raras, portanto, quase com certeza um relógio que pula os segundos é um relógio a quartzo. Mas eis que surge o
Bulova Precisionist
A marca Bulova, que já foi sinônimo de inovação com a linha Accutron (sendo inclusive uma das fornecedoras de relógios para a NASA e presente no módulo lunar da Apolo 11), foi comprada pela Citizen. Desde então, vem tentando resgatar o seu DNA inovador, e lançou, em 2010, a linha Precisionist, um relógio a quartzo, com uma vibração muito alta, e que transmite 10 pulsos por segundo para o ponteiro. A bateria é de uma nova geração, e a marca promete uma duração de cerca de 3 anos, o que não é nada ruim.
Assim, temos um relógio a quartzo, com precisão excelente (erro de 10 segundos NO ANO), e conveniência, mas que, quando olhamos, tem um ponteiro de segundos que desliza no mostrador.
Embora isso não garanta a paixão dos aficcionados por relógios de corda, certamente é uma forma de você ter uma das belezas mais aparentes dos relógios mecânicos, com a conveniência do quartzo.
Nem tudo que salta é quartzo, nem tudo que desliza é mecânico.